Saturday, June 18, 2011

Esse texto nao e meu. Mas, adoro.

Maria Eduarda tem pêlo no braço. Uma vez por mês ela tinge com blondor vagabundo e fica paracendo um mico-leão dourado. Ela não tem barriga, mas tem pêlo nas costas também. Esses ela depila. Gosta de valorizar sua não-barriga com blusas que comprou na liquidação do inverno passado. Usa calças de um número menor só pra dizer que é magra e ainda exibe as lantejolas do bolso de trás.
Maria Eduarda tem um grande sonho: passar um dia inteiro na praia. E no próximo sábado, João Henrique, seu namorado, vai fazer isso. E vai pedir sua mão em casamento.
Maria Eduarda vai aceitar, toda contente. E pra comemorar eles vão dormir fora. Naquele hotel que eles vão quando o João Henrique tem dinheiro. Vão pedir salmão. Maria Eduarda nunca comeu salmão. No dia seguinte, João Henrique vai acordar e vai sair correndo pro banheiro. O salmão estava passado. Os dezenove reais e noventa e nove centavos foram mal gastos. Dá próxima vez eles vão pedir camarão.
O meu sentimento pela Maria Eduarda é puro ódio. Odeio o seu jeitinho inocente-fingido e o descaso quanto ao plural das palavras. É quase analfabeta, mas completou o enino fundamental graças ao descaso da escola pública em relação aos alunos. Odeio quando ela dança, toda quadrada, não consegue nem rebolar, o que é bem estranho porque toda mulher pobre sabe rebolar. Ah, ela não tem bunda. Não tem mesmo... Nadinha. E eu odeio mulheres sem bunda. O que eu mais odeio na boba-alegre da Maria Eduarda é o que eu mais queria ser: feliz.
João Henrique é feinho, pobre-trabalhador, burro e fumante. Maria Eduarda o ama mais que tudo na vida. As vezes dá umas crises nela. Ela diz que gosta de outro homem, um que ela teve um caso de menos de suas semanas, anos atrás. Mas ela não se separa do João Henrique de jeito nenhum. Se ele leva ela pra passar um dia na praia e pra comer salmão depois, então, ele é sua cara metade.
O emprego dela de recepcionista é bem simples. Ela não faz nada. Fica lá parada, mostrando sua beleza interior, com um sorriso de bochecha a bochecha que ela trouxe da casa dela, três horas de ônibus dali. Ganha um pouco, o suficiente pra comprar maquiagens que suas amigas trazem do freeshop.
Mora com a mãe e com o padastro. O pai se casou de novo também. Poderia fazer disso um filme de drama, mas ela odeia filmes, diz que cansa e dorme antes do fim. Ela gosta mesmo é dos programas de fofoca. Fica vendo as roupas das socialites e tenta copiar, mas nunca dá certo.
Maria Eduarda não sabe como é ser infeliz, e nem imagina o que é prozac. Deve imaginar sim... Deve ser uma academia nova no bairro. Ela não odeia nada e ainda acha que problemas psicólogicos não existem.
Ontem eu conversei com ela. Contei que tinha brigado com o mundo e que estava sozinha. A desgraçada deu risada e disse que estava comigo. Ah, Maria Eduarda, eu te odeio tanto!

2 comments:

LETÍCIA CASTRO said...

Puta que pariu! Aqui posso dizer isso. Amanhã te explico por que.

O texto veio absurdamente a calhar e sei que foram os amigos de luz, com a permissão de Deus, que te fizeram me convidar a vir aqui. Vc vai entender tudo. Caiu como uma luva, Li. Só que tem uma coisa: nessas condições, eu não conseguiria, nem consegui ser feliz como Maria Eduarda. É pecado isso ou posso e até mereço buscar minha felicidade do meu jeito?

Quer saber? Acho que sim. Cada um tem o seu tamanho. Este é o de Maria Eduarda. Que ela seja feliz. E eu também.

Beijos, amore, te quiero inmenso!!!

Ligia Brinkman said...

Amore mio.

Os amigos de Luz te apresentaram para a Maria Eduarda. Linda ela nao eh? Mas, como voce disse, a nossa felicidade eh bem diferente da dela.
Ah Maria Eduarda, eu te odeio tanto.rs.
Busque sempre a felicidade DO SEU JEITO, porque do contrario, voce nao conseguira nunca ser feliz. Imagina voce e eu vivendo a felicidade da Maria Eduarda...Nossa, Prozac seria pouco...hahahaha.
Te amo Le.